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segunda-feira, 23 de abril de 2012

Oomoto: Arte e Religião



Desenho:"Daruma", artista: Onisaburo Deguchi

  • Relação espiritual de Meishu Sama com Onisaburo Deguchi


Quando Meishu Sama começou a frequentar a Oomoto, em junho de 1920, a fundadora dessa doutrina   – Nao Deguchi (1837-1918) – já havia falecido. Então, todo o contato de Meishu Sama com a Oomoto se deu através de Onisaburo Deguchi (segundo líder espiritual, tido como co-fundador da Oomoto), que sempre tratou Meishu Sama com todo respeito, já que reconhecia nele um alto grau de espiritualidade. Meishu Sama mesmo relata alguns episódios que mostram essa relação entre eles. Conta que, todas as vezes em que ia visitar a sede da Oomoto, era recebido pessoalmente por Onisaburo, que fazia questão de se dirigir até o portão para recebê-lo. O mesmo se dava quando Meishu Sama precisava ir embora:  Onisaburo o acompanhava até a porta – fato que causava um certo estranhamento por parte dos outros membros, que não entendiam por que tanta deferência assim em relação a Meishu Sama, o que fazia com que Onisaburo precisasse disfarçar o seu comportamento, dizendo que estava saindo também.

Outro episódio relatado por Meishu Sama sobre a sua relação com Onisaburo Deguchi chegou até a ser publicado no livro Evangelho do Céu – vol. III (p. 93 - Ed. Lux Oriens), sob o subtítulo "O desafio do Dragão Vermelho", e diz o seguinte:

“Um mês após o incidente no lago Biwa, por volta do meio-dia, desabou um vendaval em Tóquio, onde eu morava na época e, a partir desse momento, o Dragão Dourado tornou-se o meu Protetor. Três anos mais tarde, na primavera de 1932, um jovem que eu não conhecia, adepto da Oomoto, acusou-me de estar causando grandes transtornos dentro da instituição. Aos gritos, condenava-me por estar fazendo Omamori – símbolo de grande importância para a Religião Oomoto – e distribuindo-os aos membros. Segundo ele, minha atitude constituía séria profanação. Não poderia, por isso, permitir que eu continuasse vivo. Ameaçou, então, matar-me caso eu continuasse fazedo Omamori. Repetia euforicamente que, embora sacrificando a vida dele, tiraria a minha. Ao proferir essas palavras, sacou do bolso uma pequena espada e a cravou no tatami.

Quando estava nesse estado de revolta, o jovem tinha pescoço e rosto avermelhados; não parecia uma pessoa normal. Os olhos saltados, cor de sague, faiscavam raivosamente. Tive, naquele instante, a nítida certeza de que o Dragão Vermelho se havia encostado nele para me destruir. Na verdade, viera desafiar o Dragão Dourado. Decidi nessa hora que não me deixaria derrotar por satã. Eu havia sido autorizado pelo próprio mestre Deguchi a fazer os Omamori. Recusei-me, por isso, terminantemente, a atender as exigencies do Dragão Vermelho.

De repente, no momento quando o jovem parecia estar prestes a cometer o assassinato, a cor do seu rosto mudou e ele se agachou, gemendo agonizado. Perguntei-lhe o que sentia. Respondeu-me dizendo tratar-se de uma insuportável dor de barriga. Disse-lhe, então, para continuar deitado que eu iria curá-lo. Comecei a ministrar-lhe Johrei; logo depois, melhorou. A seguir, o jovem mudou completamente de atitude. Acalmou-se e me pediu para acompanhá-lo no dia seguinte, à sede da Oomoto em Kameoka, Kyoto, pois queria falar com o mestre Deguchi.

Estando já diante de Deguchi, ouvimos dele a seguinte afirmação: 'Eu mesmo não posso fazer Omamori. Tal permissão só foi concedida por Deus à minha filha Naohi, que será a terceira líder espiritual da Oomoto. Naturalmente, também, membros não poderão confeccioná-lo. Okada-San (Meishu Sama), contudo, é uma pessoa muito especial, por isso, pode confeccionar o Omamori. Procure, então, aparecer o menos possível'. Com essas palavras, o jovem obteve a confirmação do que eu já lhe havia explicado e a questão foi encerrada". (Meishu Sama).

  • Oomoto significa "Grande Origem"


Simbolicamente, podemos dizer que a Oomoto foi o “ventre” que gerou Meishu Sama. Ele mesmo fazia referência a tal informação, dizendo que "a fundadora Nao Deguchi (Espírito do Fogo) era o pai; Onisaburo Deguchi (Espírito da Água) era a mãe e que, da fusão dessas duas energias, é que ele, Meishu Sama (Izunome, ou seja, nem fogo, nem água, mistura do dois) teria nascido". Além da Religião Messiânica, a Seicho-no-ie – fundada por Masaharu Taniguchi – assim como várias outras doutrinas japonesas originam-se da Oomoto. Outro fato que poucos sabem é que o Aikido (arte marcial japonesa) também tem por origem a Oomoto. Seu fundador, Morihei Ueshiba, foi um fervoroso discípulo de Onisaburo Deguchi. Dentre as diversas artes marciais japonesas existentes, o Aikido é tido como a modalidade mais espiritualizada. Aikido, em seu sentido literal, significa, "o caminho da energia amorosa".

  • Onisaburo Deguchi, sua arte, seu legado


Quando visitamos as sedes da Religião Oomoto, nas cidades de Ayabe e Kameoka, nos dias 20 e 21 de abril, nosso objetivo era chegar a entender mais profundamente a grande influência que essa doutrina exerceu sobre Meishu Sama. Então, claro que não podíamos deixar de fazer referência quanto à importância do papel da arte para a Oomoto. Segundo as próprias palavras de Onisaburo Deguchi, "a arte é a mãe da religião".

Considerado o precursor da arte na Religião Oomoto, Onisaburo Deguchi − segundo líder espiritual dessa doutrina − nasceu em 1871, em Anao, próximo de Kameoka, província de Kyoto. Seu nome de infância era Kisaburo Ueda, e só após o seu casamento com Sumiko, filha de Nao Deguchi, é que adotou o nome de Onisaburo Deguchi. Como grande médium clarividente que foi, recebeu muitas revelações e impulsionou a expansão da doutrina Oomoto pelo Japão. Foi o introdutor do esperanto na Oomoto, em 1923. Em 1925, fundou a "Associação Universal de Amor e Fraternidade". Por duas vezes sofreu severas perseguições policiais por ordem do governo japonês. Por ocasião do segundo caso Oomoto, iniciado em 1935, chegou a ficar preso durante sete anos, mas mesmo assim, após a ocorrência desses fatos, voltou a reorganizar o movimento.

Um gênio nas artes, são abundantes as suas obras de pintura, caligrafia, escultura, cerâmica, construção de jardins e arquitetura. Onisaburo Deguchi também é o autor de Contos do Mundo Espiritual (obra que abrange 81 volumes), de poemas, principalmente tanka (em 10 volumes), além de outros escritos. Além de escrever, também, atuava em peças do teatro Noh.

  • A genialidade de Onisaburo na caligrafia e na cerâmica


Na confecção de bowls de cerâmica para chá, inovou completamente, ao fazer peças com formatos irregulares e vivacidade de cores, muito diferentes do que se produzia no Japão, na época. Tais peças ficaram mundialmente conhecidas como “yowan” (bowls cintilantes). Em seus últimos anos de vida, Onisaburo se dedicou à arte da cerâmica, chegando a produzir mais de 3.000 bowls. Em desenhos e em caligrafia, desenvolveu um estilo próprio, de extrema singeleza. Deixou também como legado uma escola. Tanto as suas obras quanto as de seus familiares e seguidores tornaram-se conhecidas mundialmente através da exposição "A Arte de Onisaburo Deguchi e sua Escola", ocorrida de outubro de 1972 a dezembro de 1975, que chegou a percorrer, entre Europa e Estados Unidos, treze cidades. Atualmente, tais obras, raras de serem encontradas, valem uma pequena fortuna no mercado de artes. A seguir, temos algumas fotos dos bowls de cerâmica, de desenhos e de caligrafias que fizeram parte da exposição mundial "A Arte de Onisaburo Deguchi e sua Escola".


Desenho: "dragão", artista: Onisaburo Deguchi

Desenho: "cachoeira", artista: Onisaburo Deguchi

Bowl: "lua", artista: Onisaburo Deguchi

Bowl: "onda do mar azul", artista: Onisaburo Deguchi

Desenho:"ashi e navio", artista: Naohi Deguchi (filha de Onisaburo),
Terceira Líder Espiritual.

Bowl: "dois pinheiros", artista: Naohi Deguchi

Desenho: "nanten", artista: Hidemaru Deguchi (marido de Naohi Deguchi)

Bowl: "kobun", artista: Naohi Deguchi

Caligrafia: "decisão", artista: Hidemaru Deguchi

Caligrafia: "mar azul", autor: Hidemaru Deguchi

Caligrafia: "mundo dos três reinos", autor: Sumiko Deguchi
 (esposa de Onisaburo Deguchi)

Nota: Leia também as matérias publicadas na sequência que, juntas, completam a visita realizada à Oomoto. São elas: Ayabe: primeira sede da Oomoto (visitada em 20 de abril de 2012) e Kameoka: atual sede da Oomoto (visitada em 21 de abril de 2012).



Fim.

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